sábado, 7 de março de 2015

El Cruce - 2º dia



Acordei às 6h da manhã, a noite não foi tão fria, dormi no saco de dormir com isolante térmico por baixo e com apenas uma calça de poliamida e camiseta, ao acordar me troquei, arrumei a mala para levar para a organização, tomei café com as frutas que peguei no dia anterior e evitei a fila para o café que estava enorme, mas não consegui escapar da fila do banheiro e a para carregar a mochila de hidratação com água e isotônico, resolvi levar duas garrafinhas de isotônico, no 1º dia meu segundo dedo do pé esquerdo já estava sem unha e acabou ficando mais dolorido, troquei de tênis, iria com um semi minimalista, fiz um curativo no dedo com silver tape, coloquei hipoglós de amêndoas nos dedos dos pés e vesti minha meia de hidratação que recebi como dica do Ultramaratonista Oraldo, ela evita o atrito dentro do tênis e não fica encharcada ao molhar. 






Na largada, as pessoas eram chamadas pelo número de classificação do dia anterior de 20 em 20, andávamos por cerca de 200 metros até chegar ao tapete de cronometragem onde saiamos em disparada, ao acordar me senti um pouco dolorido nas coxas, mas ao começar a correr as dores sumiram imediatamente, neste 2º dia seriam 43 km com 1269m de altura acumulada e 1218m de descida acumulada, a altura máxima atingida seria 1149m, seria mais longo, porém não tão pesado como o dia anterior.




Logo no inicio na estrada de terra continuei num ritmo bom, mas sem exagerar e mesmo assim estava passando as pessoas, fiquei receoso de quebrar, mas confiei no instinto e segui em frente, sabia que teria algumas subidas e poderia me poupar nelas. Por volta do km 9 teve uma subida e depois descida acentuadas, partes bem técnicas e que sinceramente prefiro, mas meu GPS enfim acabou no km 11 passando pela beira do rio percebi que a bateria havia acabado, agora seria só o cronometro.


Logo entramos pela floresta e começaram as elevações, não parei para comer, andando mesmo colocava a mochila na frente e comia e bebia sem demorar muito, as vezes perdia contato com o atleta da frente ou alguém me passava, porém depois que voltava ao meu ritmo normal alcançava eles, ainda neste segundo dia houveram filas indianas, não foram tantas como no primeiro dia, mas houveram algumas e em locais que eram difíceis de passar.




Mais ou menos no km 16 começou a maior elevação do dia, era uma ribanceira enorme, continuei num ritmo bom, nesta altura era trekking puro, mas percebi que algumas pessoas tinham dificuldade nestes trechos, acho que minhas experiências em trekking de 20 anos atrás me ajudaram com certeza e depois na descida também muito técnica consegui ir rápido, eram descidas monstruosas que ou você engatinhava ou descia sem freio, a emoção foi forte, neste momento me lembrei do vídeo do Killian Jornet e suas descidas técnicas com estilo de esquiador e foi assim até o km 30.


A parte mais difícil foi quando chegamos num  trecho plano de areia um pouca fofa, aquilo mexeu com o meu psicológico, a falta de treino deu sinal e o Sol apareceu, já que a área era aberta, comecei a andar, queria ter ficado no meu da floresta e ficar subindo e descendo morros o dia inteiro, andava rápido e algumas pessoa começaram a me passar, fiquei intercalando corridas e trekking rápido para tentar voltar ao ritmo.


Atravessamos vários rios com água bem rasa, sempre que passava neles bebia a água, estavam bem geladas e você sentia a diferença no gosto dela. Depois veio um trecho plano de areia fofa e não me senti bem com aquilo, acabei diminuindo o ritmo e vi algumas pessoas me passando, até que comecei a andar, andava rápido, porém mais lento que antes, acho que a falta de treinos fez a grande diferença naquele momento, enquanto subia e descia estava bem, mas quando peguei o plano senti um desanimo e cansaço, tentei voltar ao foco, estava de olho no relógio e precisava chegar ao km 33, que teoricamente seria o ponto de corte (e no final, acabou não tendo), mas estava com tempo de sobra, umas 3 horas a frente. Preferia que só tivesse trecho técnico e ter um área plana acho que me desanimou um pouco.




Ao chegar ao possível ponto de corte, atravessamos um rio com água até quase a coxa, era o Rio Manso, a altura da água e a correnteza não foram problemas, tinha até uma corda para quem quisesse se apoiar, o difícil foi à temperatura dela, gelada demais, neste momento existiam umas pedrinhas dentro do meu tênis e a sensação que tive é que elas eram cubos de gelo nos meus dedos, doía de tão gelado que estava, sai do rio e achei que fosse continuar no mesmo ritmo, e então passou por mim um colombiano louco gritando “Vamo! Vamo!”, “Só faltam 8 km!” (na verdade faltavam uns 10 km), aquilo me contagiou, e comecei a correr atrás dele, consegui entrar no ritmo dele e depois encaixou o meu ritmo e o passei e segui em frente. 


Passamos por um trecho na beira de um rio com água com aparência leitosa e com cor verde (imagina uma vitamina de leite com capim claro, esta era a cor da água) e a vegetação era bem peculiar, tinha uns casulos que ficavam na altura da nossa cintura que faziam barulho de chocalho quando você tocava nelas, na primeira vez fiquei procurando de onde via o som, mas depois que percebi foi pura diversão, fiquei tocando com os cotovelos e curtindo o zumbindo. Então percebi que estava chegando um fila atrás, teria que parar e quase me jogar na vegetação alta para deixar a galera passar, pois era single track, mas preferi correr num ritmo forte, esta prova tem trechos bem complicados e por diversas vezes quase cai, mas sempre consegui me livrar de um tombo, mas desta vez não deu, meu pé ficou enroscado num galho e cai como estivesse fazendo flexões de braço, com as duas palmas das mãos no chão, levantei rápido e resolvi deixar a galera passar, nesta fila de umas cinco pessoas estavam dois garotos colombianos que durante quase todo o percurso do segundo dia nos cruzamos sempre nos passando um ao outro, quando eles me viram, um gritou “Ótimo passo, ótimo passo Brasil!” e fez questão de me cumprimentar. 




Tinha um brasileiro na prova que acho que estava querendo competir comigo, na parte da areia fofa quando estava andando, ele estava trotando e estávamos no mesmo ritmo, ele olhou espantado para mim e começou a aumentar a velocidade, quando voltava a correr passava ele e depois quando voltava a andar ele me passava, quando chegamos ao trecho de pedrinhas ele tentou vir atrás e fazia um esforço imenso para me alcançar, mas não conseguia se manter no mesmo ritmo, ai eu pergunto, “pra que isso?”, faça a sua prova, curta, a competição é contigo mesmo não com os outros, mas não liguei para ele e fui embora, só achei divertido, devo confessar.




Perto do 35º km chegamos num ponto de hidratação, abasteci o reservatorio de água, bebi dois copos de isotônico e comi 4 pedaços de bananas oferecidos pela prova (elas eram cortadas em fatias, mas com as cascas, isso facilitava o manuseio, pois elas não grudavam entre elas) e voltei a correr, logo chegamos numa estrada de pedrinhas e debaixo de sol, percebi que muita gente estava diminuindo o ritmo naquele momento, depois muitos relataram que quebraram ali naquele trecho. 

 

Bem eu havia quebrado um pouco antes na areia fofa, mas agora estava de volta e consegui passar algumas pessoas (inclusive os colombianos) e fui aumentando meu ritmo. Ao passar pelos atletas ou eu perguntava ou eles me perguntavam sobre o GPS, todos estavam sem naquele momento, então calculávamos mais ou mesmo quanto faltava, neste trecho final visualizamos o Monte Tronador, alto, imponente e com muito gelo ainda no seu topo, em pleno verão e com muito gelo, deve ser muito gelado mesmo lá em cima. Ao visualizar a chegada dei um pique maior e cruzei a linha de chegada com o tempo de 6h01m51s.




Cheguei cansado, mas não tanto quanto no primeiro dia, sentei um pouco, me hidratei bem, levantei e fui ver onde estava a minha barraca, deixei as coisas nela e fui buscar minha bolsa com a organização já descalço, e os pés estavam bem, sem machucados, as meias de hidratação realmente ajudaram. 
Ao pegar a mala fui informado que teria que pegar uma autorização da imigração para atravessar a fronteira com o Chile no terceiro dia de prova, estava uma fila imensa, preenchi um formulário, apresentei a identidade e o papel do visto que teria que mostrar na saída da Argentina, ganhei uns carimbos e fiquei sem o visto, avisei que precisava dele na volta e a garota que falava português me informou que receberia outro no Chile, fiquei receoso. 




Resolvi ir comer, neste dia tinha o arroz que não tinha no primeiro dia, peguei junto o molho ao sugo, salada e frutas, depois encontrei a Paula no camping, ela estava indo comer e resolvi ir comer de novo, estava com fome mesmo, mais tarde coloquei o relógio de novo para carregar e esperava que desta vez funcionasse, fui ao rio tomar um banho e a água estava super hiper gelada, muito mais que a do lago no primeiro dia, ao ficarem 10 segundos as juntas já começava a doer de tanto frio, banho de gato total. Tirei um cochilo na tardezinha, a noite jantei e fui preparar a mala e mochila para o dia seguinte, A Fernanda chegou bem tarde e não estava querendo fazer o terceiro dia, pois estava cansada, suja e com fome e já era tarde, teria pouco tempo de descanso.




Esta noite estava mais fria que a anterior, me agasalhei bem e fui dormir (ou tentar) acordava de hora em hora, no terceiro dia a largada seria às 7 horas da manhã ao invés das 8 horas e seria repetida a classificação para sair do segundo dia, então sairia no segundo pelotão de novo, não sabia qual era a minha classificação geral, na etapa do segundo dia fiquei abaixo dos 200, mas sentia que poderia chegar entre os 200 no geral e isto já seria um lucro enorme no final.


 #‎govegan‬
Por uma nova consciência esportiva... Independente do esporte.


Ainda Continua...

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