segunda-feira, 7 de julho de 2014

Carnaval Insano Força Vegana em SP





Já como preparação para a Ultra dos Anjos, resolvi aproveitar os quatro dias de carnaval e fazer treinos com elevação, a ideia era poder correr vários km nos dias de feriado com os amigos da Equipe Força Vegana, sem forçar muito, mas acostumando o corpo a dias seguidos de atividades.

Então foi criado o Carnaval Insano Força Vegana em SP

No 1º dia (sábado) o treino foi no Pico do Urubu - Mogi das Cruzes.
As 8h30 na estação Estudante (linha coral) nos encontramos eu, o Diego Brandão e o Daniel Caldas.

Foram 11 km com quase 500 m de elevação, subimos até o pico e descemos.

Segue o treino no Strava.


 

No 2º dia (domingo) o treino foi Pedra Grande - Serra da Cantareira.
As 7h30 na estação Santana (linha azul) nos encontramos eu, o Roberto Sacchi e o Bruno Spellanzon e encontraríamos com o resto do pessoal (Rafael Alves, Diego, Erika Rosa e Rodolfo Alves) na entrada do parque.

Porém pegamos o ônibus e paramos em outra entrada muito longe, resolvemos assim fazer dois treinos, nos que erramos o caminho iríamos correndo até o outro portão e encontraríamos o pessoal que treinaria lá.

Foram 11,5 km com quase 300 m de elevação, a altimetria foi baixa, pois mudamos o treino para não perder o dia.

Segue o treino no Strava.


 

No 3º dia (segunda) o treino foi no Pico do Jaraguá.
As 8h00 no pico mesmo na entrada do parque nos encontramos eu, o Diego, o Roberto e o Pedro Lutti.

Foram 13,5 km com mais de 800 m de elevação, subimos o pico duas vezes, uma pelo asfalto e outro pela trilha do Pai Zé.

Segue o treino no Strava.


 

No 4º dia (terça) o treino foi na Serra do Japi – Jundiaí.
As 7h00 no metrô Santa Cecília nos encontramos eu e a Faby Servilha (o Ygor Fiori foi para nos acompanhar).

Não achamos a entrada do parque que já havia ido antes e treinamos por outro lugar com elevação mais baixa, dividimos o treino em parte de terrão e parte de rodovia.

Foram 20 km com mais de 450 m de elevação, no outro lugar que costumamos treinar existem subidas bem grandes deixando a altimetria do treino bem legal.

Segue o treino no Strava.



No final os treinos foram muito bons, fui o único que esteve nos quatro dias, mas agradeço a galera por ter me ajudado na preparação para a meta que seria em junho.

sábado, 5 de julho de 2014

Ultra Maratona dos Anjos - Meus 235 Km no Survivor




Em janeiro deste ano resolvi me inscrever na UAI – Ultramaratona dos Anjos, seriam 235 km na categoria Survivor (sem apoio), tem a opção Solo, aonde o atleta vai com uma equipe de apoio num carro, mas no Survivor você mesmo tem que levar tudo (comida, roupa, kit obrigatório, hidratação) na mochila e era nesta que eu iria.

Enviei o currículo para a pré inscrição e fui aceito, então os treinos precisavam ser mais pesados e intensos agora, acordando às cinco horas da manhã, independente do tempo (chuva, sol, frio, calor) lá estava eu nas ruas do meu bairro com uma camel pesada e subindo ladeira, qualquer rua com subida era desviada para incluir no treino.

Em fevereiro fiz uma ultra em Corupá de 46 km com mais de dois mil metros de elevação positiva, prova duríssima com duração de 8 horas, já em março fiz o 1º Ultramaratona Soloman em Atibaia com 53 km e também com mais de dois mil metros de altimetria, foram desgastantes, mas era só o começo.

E os treinos seguiram fortes, chegando a fazer 120, 130 km por semana, estava me sentindo bem e confiante e o corpo reagindo bem, precisava só trabalhar a cabeça, pois seria o ponto crucial no dia da prova. Uns dias antes da prova vi uma palestra na internet do Marcio Villar onde ele dava a dica de sempre visualizar a sua chegada nos treinos, sempre imaginando você chegando ao objetivo final e eu realmente fazia isso nos treinos.


A largada da prova seria em Passo Quatro / Minas Gerais, passaríamos por Itamonte, Fazenda da Mata, Alagoa, Aiuruoca, Cachoeira dos Garcias, Espraiado dos Gamarra (Baependi), Caxambu, São Lourenço, Pesqueiro 13 Lagos e a chegada de volta a Passo Quatro. Com muitas subidas em montanhas e descidas duras.

No dia 19 de junho cheguei à cidade na hora do almoço, onde logo conheci o Cleber Bé que também iria fazer a prova como Survivor, conversamos durante o almoço e ele me contava a sua experiência na Ultramaratona da Jungle. Depois fui conhecer a pousada que ficava do lado da largada e encontrei outro atleta o Itamar Alves onde havíamos nos conhecidos nas 24 horas de Valinhos, peguei carona com ele e sua família (que fariam apoio para ele na prova) até onde seria realizado o Congresso Técnico e a entrega do Kit.


Na entrega do kit, todos assinavam um questionário e termo de responsabilidade, depois eram mostrados todos os itens obrigatórios para a categoria Survivor (lanterna de cabeça e/ou de mão, mochila de hidratação com no mínimo 2 litros de reservatório, porta squeeze, agasalho, segunda pele, luvas, toca, colete refletivo, apito, cobertor térmico, celular, pilhas de reserva, alimentação totalizando três mil calorias), era tirada uma foto com cada atleta segurando seu número de prova e com todos os itens obrigatórios. Também era necessário levar alguns medicamentos (mesmo eu não usando remédio levei no kit obrigatório) como anti diarréico, anti térmico, anti vomito, anticéptico, soro e analgésico, na verdade se tivesse que tomar estaria em maus lençóis, pois não sei identificá-los fora da caixinha.

Minha mochila tinha por volta de 6 quilos, hidratação, roupas, kit obrigatório e comida que por sinal levei até demais. Tinha castanha de baru, nozes chilenas, tâmaras sem caroço, damasco turco, avelã, macadamia torrada, amêndoa torrada, pistache, banana passa, batata roxa doce, abobora doce e alguns desidratados (kiwi e caqui) além de paçoca e rapadura, não levei nenhum suplemento artificial, a idéia era não só realizar a prova com uma alimentação Vegana, mas também que fosse natural. Durante o percurso iria também me alimentar nas cidades.


Na pousada conheci outro vegano, o atleta Pedro Henrique Braga que mora no Rio de Janeiro e iria fazer a prova de 95 km (seria sua primeira Ultra e iria sozinho sem apoio) e se saiu muito bem ficando em 2º lugar na classificação final. Acordamos às 6 horas da manhã, tomamos café e fomos para a largada, estava chegando a hora e estava frio, fui com uma segunda pele, camiseta de manga longa, toca e um lenço para proteger o pescoço, mas estava de shorts. Muitos abraços, conselhos, boas sortes e fotos para todo o lado. Encontrei o Ultra maratonista Marcio Villar, ele iria participar da prova de 65 km, onde seria o último treino longo para a preparação de sua prova de 500 km que faria 20 dias depois, mas por muito azar machucou o tendão ao descer do seu carro um dia antes e estava voltado para o Rio, o Marcio me deu um abraço, brincou que todos da Equipe Força Vegana são pessoas sensacionais e me deu vários conselhos, onde escutei “sem piscar”, claro!!

Às 8 horas da manhã do dia 20 de junho foi tocado o hino nacional, onde uns cantaram e outros ficaram em silêncio, cada um na sua concentração, não houve capela, choros e/ou emoções mais quentes, pois a prova era longa e o controle emocional é essencial (me desculpem os torcedores de futebol, mas essa explosão de emoções antes são para os torcedores e não para os atletas). Enfim, com o número 111 no dorsal foi dada a largada.

Comecei num ritmo não muito forte, mas também não muito lento, vi muitos saírem na frente, mas não me deixei levar pela emoção de ir atrás, precisava me concentrar na minha prova, estava ali competindo comigo mesmo, esta era a minha Copa do Mundo, os treinos foram intensos, a alimentação foi rígida, o descanso sempre que necessário, tinha consciência que iria sofrer muito, mas com diversão.


Na categoria Solo estavam inscritos 19 atletas e no Survivor 14, além dos quartetos, duplas, 65 km e 95 km, por volta de 70 loucos com seus objetivos próprios. As provas de Ultra são longas e pesadas, onde você corre sozinho e na verdade não corre sozinho, pois existe uma família que se forma durante as provas e uma preocupação maior com o bem estar de todos, pois nos consideramos colegas e não adversários.

Logo no primeiro km começo a escutar uma música, que estava vindo do carro onde o Carlos e a Katherine estavam fazendo o apoio do Tubarão, eles instalaram um alto falantes em cima do capo da picape e ficando tocando Iron Maiden durante a prova, descobri afinal o segredo do Reinaldo, estimulante puro escutando a Donzela hehe.


Após atravessarmos a Rodovia entremos em um caminho de terra onde passamos por vários sítios até chegarmos a Itamonte (por volta de 21,5 km), porém antes de chegar lá por volta de uma hora de prova comecei a sentir uma dor no joelho direito, uma pontada, uma dor leve, mas que sabia que iria piorar.

18 dias antes

No último longão (60 km) que fiz de preparação para a prova senti uma dor muito aguda no joelho direito e fiquei preocupado, afinal nunca tinha me machucado antes, fiz tratamento intenso e pedi ajuda ao Ronaldo Palleze (amigo da equipe Força Vegana) que me indicou uma pomada, não tomei nenhum outro remédio. Faltando seis dias tentei fazer um treino leve de 10 km e senti a dor por volta dos 5 km e parei para não forçar, ferrou!!! Agora era preparar a cabeça porque sabia que durante a prova iria sentir o joelho. Resolvi então comprar um par de bastões para corrida, para ajudar nas subidas e aliviar um pouco o esforço do meu joelho.


Voltando a prova, continuei no meu ritmo, pois a dor ainda era bem pequena e ainda conseguia correr. Logo encontrei com a Meire que estava fazendo Solo, que conhecia de vista (ela ganhou a 24 horas de Valinhos), Guerreira Insana, conversamos bastante sobre as corridas e alimentação (ah, ela também fez a Comrades duas vezes seguidas), trocamos várias informações e foi uma honra brutal estar ao lado dela. Mais a frente nos juntamos ao Renato Mourão que estava fazendo Solo e estava com um dos seus Anjos, a Raissa (piada interna “Fala muito!!!”, melhor não explicar). Continuamos num ritmo bom, corríamos e andávamos em subidas, pois a prova ainda estava no início, já haviam passado dos 30 km quando paramos pela primeira vez para comer rápido, lá estavam o apoio da Meire e do Renato com seus outros Anjos, a Luciana e a Vivian, todos eles são da equipe Curta Ultra, pessoas sensacionais que tem por objetivo curtirem as provas, se divertindo muito por sinal e eu ali de intruso só absorvendo as energias positivas.


Por volta do 36º km à dor no meu joelho já estava ficando intensa, parei para urinar e deixei-os irem em frente, coloquei uma faixa no joelho que aliviava a dor, faltava um pouquinho menos que 200 km, ou parava ali, me poupava e tentaria voltar ano que vem ou continua e machucaria mais o meu joelho podendo até causar uma lesão irreversível, se tivesse que dar um conselho a alguém diria “Pare, se recupere e volta melhor para a próxima”, porém não iria parar por nada, chegaria arrastado se fosse possível, inconsequente (?), pode ser (!), mas já estava decidido, intercalei corridas pequenas e andadas rápidas, muito rápidas, num ritmo forte, o joelho só doía quando corria, então assim seria, “correr” contra o tempo, 60 horas eram o limite para o termino da prova e na minha cabeça daria.


Passei por um mercadinho e parei para comprar água, abastecer a camel e seguir subindo, encontrei com o Felipe Alves (outro amigo que fiz na 24 horas de Valinhos), ele estava de Survivor, percorremos um bom trecho juntos onde subimos uma estrada em fase de construção com vários caminhões, o visual era belíssimo e não tinha como não parar e admirar aquelas montanhas, a natureza é impressionante. Quando cheguei ao topo, parei para comer novamente algo rápido e deixei o Felipe continuar, começou a garoar e coloquei um corta vento e fui embora descendo num ritmo rápido mesmo andando, mas algo estranho aconteceu, meu dedo do meio esquerdo estava branco e a unha transparente, não tinha sangue nele, estava duro como gelo e pensei “vou perder meu dedo”, fiquei fazendo massagem para que o sangue voltasse, demorou mais voltou, porém depois voltou a ficar duro de novo, continuei a massagem, aqueci o dedo e ele voltou ao normal, fiquei preocupado, estava numa serra e a temperatura havia caído bastante, mas ao sair dela voltou a fazer calor.

Na Fazenda da Mata onde passamos por várias propriedades encontrei os atletas Mauricio Takeshi e o Wagner Ricca (ele para quem não conhece “só” dobrou a BR 135), eles estavam fazendo a prova de 95 km, o Wagner já havia completado antes no Solo e agora estava ajudando o Mauricio, eles me deram muita força para completar a prova, passamos por Alagoa um pouco antes das 18 horas onde paramos na chegada dos 65 km e comemos algo rápido no PC, o próximo objetivo agora era chegar a Aiuruoca. Com a escuridão já presente, pegamos o colete refletor e as lanternas e seguimos em frente, às vezes estamos juntos, às vezes um pouco distantes, mas sempre nos comunicando, consegui manter um ritmo forte e dei algumas corridas, porém por volta do km 80 quebrei geral, não sei se foi por causa do corpo dando sinal de cansaço, mas não conseguia reagir e manter o meu ritmo e assim diminui e pior a minha água havia acabado, estava no meio do nada e agora precisava chegar ao próximo PC, visualizava as luzes da cidade de longe e como não tinha nem lugar para sentar segui em frente, a noite estava esfriando e encontrei um ponto de ônibus coberto (deve passar um por dia naquela estrada), me agasalhei, coloquei luvas, toca e fui embora, logo encontrei o carro da organização com o Niltinho e a Paola (eles foram meus Anjos, ficavam passando pelo percurso e verificando os atletas, isto reconfortava) peguei uma garrafinha de água, que era o suficiente para chegar até a cidade.


Faltando uns 6 km para chegar à cidade, dois carros de apoio revezavam sempre passando por mim e ficando a 1 km a minha frente, quando chegava perto dos carros um deles sempre acendia os faróis me ajudando a enxergar naquela escuridão total que estava (mesmo com a minha lanterna estava muito escuro), agradecia e seguia em frente. Ao chegar a Aiuruoca (95 km) por volta da meia noite e meia ainda não sabia se iria parar para descansar e subir depois para a Cachoeira dos Garcias (o ponto mais alto de altimetria), os conselhos eram para descansar e subir depois, mas como meu ritmo havia diminuído por causa do meu joelho e o pé direito que agora também estava doendo, não queria perder tempo e não sei explicar, mas ao chegar à cidade minhas energias estavam renovadas, eu não queria parar, queria seguir em frente e tomar a sopa quente que estava sendo dada no próximo PC, no alto da cachoeira. Abasteci a camel de água, bebi um café quente e segui para o alto e avanti, calculei umas três horas de subida.

Subida de asfalto e terra pesadas, um carro passando por outra lado me viu e voltou para a minha direção, percebi e achei que fosse alguém da organização ou algum apoio, mas não era um carro com cinco pessoas que moravam na cidade, pararam o carro e me deram apoio com palavras e me explicando como eu deveria fazer para chegar até o alto da cachoeira. Um pouco antes de chegar parei numa encruzilhada e fiquei na dúvida, pois não consegui achar a sinalização, parei, sentei e resolvi esperar, mas logo escutei uma voz vindo de um dos lados, fui em direção a duas pessoas que estavam voltando, um atleta que estava passando mal estava desistindo e seu pace o estava acompanhado de volta a Aiuruoca, me indicaram o caminho e disse para eles descansarem na cidade e de manhã se estivessem bem continuasse, pois daria tempo.


Mais a frente escutei uma voz um pouco atrás de mim, alguns estavam vindo, essa sensação de não estar sozinho era boa, visualizei a placa da cachoeira e segui em direção a pousada onde ficada o posto de controle da prova, demorei um pouco mais de duas horas para chegar menos do que esperava, tomei duas pratadas de uma sopa de legumes quentíssimas e um café que me aqueceu bem, afinal lá em cima estava muito frio, logo depois chegaram o Renato, a Raissa e a Patrícia (que também estava fazendo Survivor), a mulher que estava no PC (desculpa imensas, pois não lembro o nome dela) foi sensacional me disse para ir dormir e que ela iria me acordar quando quisesse e a descida era muito perigosa e seria bom estar um pouco descansado, não estava cansado, mas resolvi descansar, deitei e dormi direto, meu relógio tocou uma hora depois, levantei tomei um café forte (acho que tomei mais café em três dias do que nos últimos dez anos, pois normalmente não tomo café). Olhei meu pé, tirei o silver tape que coloquei nos dedos (junto com vaselina) eles estavam até bem, mas o pé direito estava inchado e doendo, talvez por causa da maneira que estava pisando para poupar o joelho. O pessoal resolveu ficar um pouco mais deitado então resolvi continuar, recebi vários conselhos da dona da pousada sobre as descidas que eram perigosas e como estava úmido deveria tomar muito cuidado.


As descidas eram chatas com partes de terra lisa em que os tênis escorregavam muito. Fazendo um adendo resolvi correr com o meu Asics Gel Fuji Trainer 2 (semi minimalista) por causa do joelho ao invés do minimalista Sprint Tennis que levei, mas deixei na pousada em Passo Quatro, não levei tênis reserva na mochila, precisava levar o mínimo de peso (e depois da prova percebi que os 6 quilos foram demais daria para ter levado um pouco menos). Haviam também descidas com pedras muito pontiagudas que machucavam bastante os pés. Mas não foram só descidas, houve muitas, mas muitas subidas até chegarmos ao Espraiado do Gamarra, numa destas subidas vi uma vaca morta, provavelmente quebrou a perna na descida, comecei a escutar uma vozinha bem longe e tinha certeza que era a galera do Curta Ultra e logo me alcançariam já o calor estava aumentando e parei para tirar quase toda a minha roupa (só lembrando que fiquei três dias com a mesma roupa e não tomei banho durante a corrida), podem torcer o nariz, mas não poderia perder tempo, porque o meu ritmo esta menor. O Renato e a Raissa acharam um pé de limão e pegamos algumas que estavam maduras e quando encontramos o carro de apoio da organização o Renato fez uma limonada e comi dois pedaços de goiabada que o Niltinho com sua faca do Rambo cortou.


Depois quando passei por uma ponte e olhei para o rio, encontrei a Raissa e o Renato me chamando, eles estavam dando uma recarregada de energia numa água geladíssima, a Raissa chegou a mergulhar e saindo parecendo um picolé, porém feliz da vida hehe, tirei meus tênis e percebi que meu pé e tornozelo direito estavam muito inchados, eles me aconselharam a deixar meus pés e joelho de molho por um tempo naquela água para dar uma aliviada, estava muito fria mesmo, mas depois de um tempo o corpo se acostumou com a temperatura e as dores cessaram por um bom tempo.

Mais uma caminhada agora em terreno quase plano e logo depois cheguei ao bar do Nadinho, onde encontrei muitos atletas e apoio, e parei para almoçar junto com a galera de BH (Curta Ultras), comi (não muito) arroz, feijão, macarrão e salada e logo sai, iria fazer a digestão caminhado, pois não queria perder tempo, a Patrícia me acompanhou e a Anjo Luciana nos avisou que faltavam por volta de 103 km.


Houve uma modificação num trecho este ano e nos foi alertado sobre isso no Congresso, e claro que eu não vi esta marcação e erramos feio, eu, a Patrícia e o Renato que estava a nossa frente, o erro nos custou mais ou menos 4 km, depois ao voltar, a marca estava lá bem visível, erro por falta de atenção. O próximo destino agora era Caxambu, antes de chegarmos, parei novamente em um bar e comprei três litros de água para que não faltasse na madrugada, e a mochila voltava a ficar mais pesada, mas naquela altura o peso dela não estava mais fazendo diferença, o corpo já havia se adaptado. Como escurecia cedo, já aproveitei e coloquei o colete refletor e peguei a lanterna, esta parte até a próxima cidade era de pouca visualização e só se enxergava com a luz da lanterna.


Falando em visões, vi muitas nas duas noites, qualquer arbustos era visto como uma forma idêntica de um animal qualquer, pessoas (?), vi muitas, perante os meus olhos eram perfeitas e quando chegava perto não era nada, sentia vários calafrios, neste momento estávamos eu e a Patrícia, e ela concordou com algumas visões minhas, já em outras disse que eu estava delirando, mas as pessoas estavam ali e eu me sentia bem em vê-las, estávamos num ritmo bem forte, já estava olhando para o relógio e fazendo contas e logo chegamos a Caxambu e paramos na rodoviária para comer, e lá vai mais paçoca e café, logo seguimos adiante, queria chegar a São Lourenço até as quatros horas da manhã.

Neste trecho percorremos uma parte da Estrada Real (eram por volta de 12 km), esta estrada foi um caminho trilhado pelos colonizadores na época da descoberta do ouro, havia vários pontos indicando o quando faltava e o quando tinha sido feito em km. O frio aumentava, junto com a escuridão e o aumento das visões e sons identificáveis. De repente vi um carro e falei “poderia ser a organização com um café quente”, dito e feito eram a Paola e o Miltinho no meio da madruga nos oferecendo um café quente, água e comida, só tomei o café, coloquei toda a roupa que tinha na mochila, menos a calça, pois não estava com frios nas pernas e no pé e seguimos adiante ainda num ritmo forte. Não tenho muita certeza, mas acho que faltando uns 10 km para chegar até o próximo PC quando uma cadela vira lata linda, branca com uma mancha preta nas costas parecendo uma capa começou a nos seguir, brinquei com ela, fiz alguns cafunés, conversei com ela e pedi para ela me ajudar (a chamava de “De Anja”), e ela foi durante estes 10 km nos seguindo, ou melhor, nos orientando, ela ia à frente, parava, esperava eu chegar e continuava, em alguns cruzamentos em que tínhamos que parar para poder visualizar as setas de sinalização da prova ela estava (podem acreditar) no local certo nos indicando mesmo por aonde iríamos, cruzamos a BR e chegamos à entrada da cidade, atravessamos toda ela por mais alguns quilômetros e um pouco antes de encontrarmos o PC ela parou em frente ao uma embalagem de pizza cheia de esfihas e ficou me olhando, disse para comer tudo, pois ela merecia e não nos vimos mais, pois continuei e ela ficou lá comendo.

Chegamos ao PC (por volta de 180 km, faltavam agora 55 km) às três da manhã, há uma hora antes do previsto, disse para a Patrícia dormir que eu a acordaria depois de uma hora, fui ao banheiro e depois passei a pomada e arrumei a faixas do joelho, pé e tornozelo, dormi dentro de um carro que eu acho que era da organização, ou melhor, tentei, o celular do cara que estava dormindo do meu lado (que não sei quem era) não parava de tocar e quando o meu tocou despertando levantei rápido, dormi por volta de uma hora e meia nas duas noites, já era o suficiente!

Subimos mais uma serra e o frio estava intenso, muito mais que na noite anterior, ainda iria demorar um pouco para amanhecer e com aquela neblina toda o sol não iria dar as caras tão cedo. No meio daquele breu encontramos o Renato e a Raissa novamente e logo atrás iluminando tudo vinham no carro a Luciana e a Vivian, devo aqui registrar que o Renato foi muito Guerreiro e seus Anjos foram sensacionais, até confesso que peguei um pouco das energias deles hehe.

 
 
Estava preocupado com o tempo por causa do horário do meu ônibus que estava marcado para as 18h20, era o último ônibus do dia para São Paulo e se perdesse não saberia se conseguiria voltar no dia seguinte, e eu tinha que trabalhar, pelas minhas contas estava em cima do horário para poder chegar, tomar banho e ainda ir para a rodoviária, então comecei a acelerar, mas as dores foram ficando maiores conforme ia chegando perto do último PC, meu ritmo diminuiu e a Patrícia me alcançou e me deu forças para continuar, quando chegamos a mais um objetivo, paramos num bar e comemos, pedi uma limonada sem açúcar e pão com azeite e sal, foi acrescido tomate pelo dono, a Tomiko estava lá trabalhando como staff na prova e me deu um grande apoio, até refez a minha faixa do pé e do tornozelo, eles estavam mais inchados, nos disseram que faltavam 21 km, então pensei, “putz!!! dá tempo de chegar até as 16 horas”, arrumei as coisas e sai rápido.

Tinha um bom trecho de asfalto e depois mais uma serra para atravessar, a dor tinha passado e o ritmo continua rápido, depois que a parte da rodovia terminou pelas minhas contas faltava pouco mais de 15 km, senti uma energia muito grande por estar ali e comecei a chorar, sim chorei muito, pensei em todo o esforço que fiz nos treinos e nas pessoas que acreditaram e torciam por mim. Era cedo ainda para chorar e isso poderia me custar caro, continuei num ritmo forte, vieram então às ribanceiras, subidas num calor estridente e minha água já estava quente por causa da alta temperatura, molhava a boca e cuspia só para dar uma refrescada, encontrei o Waldez (pessoa fantástica que foi para o Ushuaia de moto) que estava fazendo apoio para um atleta que me ofereceram para tomar banho de água com gás, aceitei, afinal precisava daquele “gás”, molhei bem a cabeça, mas recebi uma noticia que me deixou realmente abalado, nas minhas contas faltavam 6 km, mas fui informado que na verdade faltavam 16 km, “Como assim??????????”, “Não pode ser!!!!!!!!!!!!!!”.


O tempo já tinha ido para a cucuia, aquilo foi um golpe pesado, senti meu corpo mole e sem forças, tentei correr, mas não tinha coordenação motora, continuei caminhado, mas muito lento, a Patrícia me alcançou e viu meu estado, me deu broncas e disse para continuarmos, faltando uns 10 km, numa bifurcação ela viu uma flecha que descia e eu vi uma flecha que subia, ficamos discutindo e aceitei a posição dela, descemos e nos ferramos, aquela seta era do pessoal que faz trilha de bike e quanto descobrimos isso já estávamos muito longe, pedimos ajuda nas casas e nos informaram um caminho para voltar ao nosso caminho, ou voltamos e continuávamos ou iríamos para o outro lado e saiamos da prova, estávamos no meio do caminho, mas sinceramente não tinha mais forças, não queria mais continuar, queria ir embora, queria que a organização fosse nos buscar, desisti mesmo, chega, ACABOU!!!!

Fiquei pensando nas pessoas que iria desapontar, na minha Equipe, nos meus amigos, da minha filha que sabia onde eu estava e confiava que eu conseguiria. Recebi várias mensagens de incentivo antes, do Roberto Sacchi, do Daniel Caldas, do Ronaldo Palleze, do José Luiz, da galera do serviço, recebi mensagens durante a prova da Faby Servilha e do Rafa Alves, mas demorei a vê-las porque na maioria dos lugares o celular não tinha sinal. O incrível é que eles confiavam mais em mim do que eu mesmo. Achei que realmente não deveria ter feito a prova, me machuquei alguns dias antes da prova, um mês antes quase desisti de ir por causa do acidente do Diego em que até pensei em parar de correr, quando não conseguia nem vestir o tênis para treinar e somente depois que ele recebeu alta do hospital consegui voltar aos meus treinos. Já estava conformado em não terminar.


Sentei mais a frente e quando a Patrícia passou me pediu desculpas, de cabeça baixa não respondi, levantei e continuamos caminhando, ela conseguiu falar com a organização para vir nos buscar, subimos uma ladeira, passamos por porteiras e voltamos à estrada, tirei meu numero, dobrei e coloquei na mochila, vesti o corta vento e esperei, quando a Paola e o Niltinho chegaram, o Delino (que venceu a prova do Survivor) também estava dentro do carro e me disse que também errou no mesmo lugar que nos, naquele momento estava com muita raiva, eu iria terminar esta prova de qualquer jeito, informei que não me importava de ser desclassificado e que terminaria mesmo que chegasse de madrugada, eles foram unânimes, não me deixaram desistir da prova, mandaram colocar o numero, pois eu estava ainda na prova, disse que tinha errado o caminho, mas tinha dado uma volta enorme e o Niltinho até brincou dizendo que cobraria uma taxa maior por termos corrido mais.


A minha raiva estava latente, não sentia mais nenhuma dor no corpo e queria morder a estrada e terminar logo, faltavam mais ou menos 5 km, estava começando a escurecer, disse para a Patrícia que o nosso erro poderia ter acontecido com qualquer um e eu não a culpava por isso (ta certo que na hora eu quis matá-la), e estávamos juntos nessa. Desci aquela ladeira muito rápido, não coloquei colete refletor e nem peguei minha lanterna, descia batendo os bastões no chão para saber onde estava pisando, de repente escutei um barulho atrás, a Patrícia tropeçou e quase caiu, ela estava com muita dor e estava num ritmo um pouco mais lento, parei esperei e segui no ritmo dela, iríamos terminar juntos, o tempo era mais que suficiente.


A Pâmela que estava de carro estava levando o Wendell que se machucou feio e havia parado, perguntei com estava o Adonis que estava junto e ela falou que ele estava tendo dificuldades, mas estava vindo, avisei que se ele parasse iria lá buscar ele e iríamos terminar juntos. Faltando 2 km nos juntamos, eu a Patrícia e o Adonis, iríamos terminar todos juntos, logo entramos na cidade, mas andar pelas ruas de pedras da cidade faziam as dores voltarem, visualizamos a praça e combinamos de cruzar os três com o pé direito na chegada. ACABAMOS!!!!

Eu e o Adonis até conversamos com o Fernando na chegada sobre os atletas que ainda estavam chegando e mereciam ser recebidos independente se o tempo limite estourasse e deveriam ganhar o reconhecimento do evento por ainda estarem lá lutando para chegar (E isso aconteceu, que fique registrado!!!). 


O mais surpreendente de tudo é que nos três terminamos empatados em 2º lugar na categoria Survivor no resultado oficial, com o tempo de 58 horas e 48 minutos, isso foi o que menos importou nisso tudo, sem demagogia, o objetivo era terminar e agradeço de coração a organização da prova Ultra Runner e a todos os staffs que foram super atenciosos comigo, aos atletas  e apoio que lá estiveram e aos pensamentos positivos das pessoas de longe, porque foi muito duro e gratificante. No final o Fernando responsável pelo evento me confidenciou os apelidos que me foram dados durante a prova, como resolvi tirar a barba e deixar só o bigode, fui chamado pelos staffs como Santos Dumont, Freddy Mercury, Benito de Paula e por ai vai quando comunicavam a minha passagem pelos PCs.


Fiquei feliz com o resultado do Itamar e sua família no apoio, a Meire Assis, ao Renato Mourão e seus Anjos, ao Tubarão e sua equipe, o Ricardo e a Fabíola, a todos que completaram e admiração aqueles que não conseguiram terminar, porque desistir é com certeza uma decisão muito mais difícil, ao Felipe Alves que fiquei sabendo na chegada que havia desistido e não consegui falar com ele, ao Cleber que parou faltando 8 km (se machucou torcendo os dois pés), ao Pedro Paulo que também se machucou (já éramos amigos no Strava onde ficávamos espionando um o treino do outro, hehe), muita gente saiu machucada e não conseguiu terminar, a prova é duríssima e esperava fazer em um tempo bem menor, mas devido ao estado que cheguei, não tenho o que reclamar.


O mais difícil foi levantar no dia seguinte às 6 horas da manha para arrumar as coisas e ir embora, com todos os dedinhos machucados e os dois pés inchados e enfaixados, um enorme agradecimento a Dona Doca da pousada de Passo Quatro que me fez um chá quente e me salvou de uma hiportemia na madrugada pós prova, onde eu estava dormindo sem coberta e com uma toalha molhada na cabeça e tremendo como uma vara curta, pois capotei quando só queria dar um esticada nas pernas na cama, depois do banho.

Eu e a Tomiko fomos embora na segunda de manhã e já no metrô em São Paulo junto com o Cleber combinávamos a próxima aventura em terras bem distantes.


Pronto a Equipe Multiesportiva Força Vegana completou a prova UAI - Ultra Maratona dos Anjos 235 Km Survivor!!!!