segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Aprendendo nas montanhas


Nos dias 22 e 23 de novembro, ocorreu em Minas Gerais o Segundo Desafio Curta Ultra na Estrada Real: Sabarabuçu, saindo de Cocais até Glaura, o evento foi muito bem organizado pela equipe Curta Ultra de Belo Horizonte.

Mais ou menos nos mesmos moldes do Soloman, a prova não tem taxa de inscrição, nem premiação e nem classificação final, o objetivo é reunir os amigos amantes da trail e cada um fazer o seu melhor, correndo, de bicicleta, andando, correndo e de bicicleta ou fazendo apoio dirigindo. Onde quase 85% pode ser feito com apoio com carros. Esta é uma ótima prova para baixar o seu ego para debaixo do ralo.



Os 160 km do Caminho de Sabarabuçu estão divididas em 6 trechos, onde cada um dos trechos guarda atrativos turísticos que vão do turismo natural ao histórico, cultural e religioso – são dezenas de igrejas e festas populares.

Para quem percorre o caminho do Sabarabuçu no sentido Cocais – Glaura subirá um total de 77 km oscilando entre subidas curtas e longas.



Sai de São Paulo as 21 horas de sexta-feira (21/11) e cheguei no sábado em Belo Horizonte por volta das 04h30 da manhã no sábado. A Luciana me buscou na rodoviária e fomos direto a casa do Luciano (que faria apoio dirigindo um 4x4), depois pegamos a Meire e seguimos direto para Barão de Cocais de onde seria a largada. 

Eu a Luciana e a Meire faríamos uma equipe com apoio único de um carro, as meninas estão mandando muito bem e devo confessar que estava um pouco preocupado comigo, pois havia diminuído meus treinos após o cancelamento do Soloman 320 no final do ano e não queria prejudica-las, mas como equipe faríamos todos juntos, afinal a intenção ali era se divertir.





Chegaram praticamente todos juntos, éramos mais de 20 pessoas destinadas a fazer parte (cada um com seu limite) do Desafio de Sabarabuçu. A ideia seria corremos mais ou menos em bloco, alguns com um ritmo maior e outros com um ritmo menor, afinal algumas pessoas queriam fazer o percurso inteiro e outras apenas um pedaço, então foi combinado de ao chegar no final de cada trecho nas cidades apontadas, todos esperariam os demais chegarem para sarem todos juntos novamente, se houvesse um grupo muito atrás este seria trago pelos carros para não ocorrer um atraso/espera dos que estavam na frente.


A largada foi dada as 7h30 da manhã, o 1º trecho seria COCAIS - CAETÉ - 39,5 km (distância em subida: 20 km).

O trecho inicia no vilarejo de Cocais, distrito de Barão de Cocais. Fundado em meados do século XVIII, a partir da vinda de bandeirantes em busca do ouro, o lugar conserva traços dessa época, como casarões e igrejas. Uma delas, o Santuário de Santana, foi construída totalmente com pedras e data de 1769. Outro ponto forte do trecho são as cachoeiras da região.



No início eu e as meninas fomos de boa, afinal o objetivo seria fazer o percurso completo, chegamos a ser os últimos, parávamos rapidamente para hidratar e comer algo rápido em intervalos curtos, estávamos sem camelback e por isso a preocupação com a alimentação era importante, o tempo estava nublado e isso ajudava.


O 2º trecho CAETÉ - SABARÁ - 31,21 km (distância em subida: 16 km)

O trecho inicial era de 43,5 Km, oscila entre estrada de terra (entre os Kms 0 a 21,1 e entre o Km 33,02 a 43,54) e trilhas (km 21,1 a 33,02), porém com o trecho de trilha está com a vegetação muito alta e de difícil orientação, a planilha foi elaborado em cima de um trecho alternativo enquanto não é resolvido o problema da trilha. Com o caminho alternativo o percurso passa a ter 31,21 Km todo percorrido em estradas de terra.



Por volta do km 42 a Meire resolve parar, estava sentindo uma dor que já a estava incomodando a algum tempo, ele completou 3 maratonas em 3 finais de semana, sendo uma em Cuba, como seu objetivo é a BR+ em janeiro, ela precisava parar para se recuperar rápido e voltar aos treinos, entendemos isso e a apoiamos. A nossa Guerreira ficou no apoio junto com o Luciano no carro não nos deixando ficar sem hidratação e comida, no final do trecho de Sabará em frente a igreja local nos fez um café que ajudaria e muito, o começo da noite já iniciava e o sono veria em breve.


Subimos muito alto e vimos um trilho de trem numa ponte e depois ao descermos passamos várias vezes por baixo da ponte que comportava o trilho. Devido a mineração ainda presente na região existiam vários bondinhos com carrinhos levando os minérios.

O 3º trecho SABARÁ - RAPOSOS - 12,3 km (distância em subida: 5 km)

O trecho, de 12,3 Km, oscila entre estrada de terra, trilhas (entre km 7,2 e 10,9) e um pequeno trecho de asfalto (2 km).

A trilha não é transitável para quem estiver de carro, mesmo os 4X4. Ela só é acessível a pé ou de bicicleta. Quem estiver com automóvel deve seguir de Sabará, por mais 18 Km, até Raposos.



Neste trecho os carros não poderiam nos acompanhar, então tivemos que abastecer a camelback e seguir em frente, a Meire seguiu de carro até Raposos e depois foi embora descansar. eu e a Luciana seguimos em frente do resto do pessoal, pois não queríamos ficar muito tempo parados e esperaríamos todos na próxima igreja demarcada no fim do trecho. Passamos por uma propriedade privada onde pedimos autorização ao dono para passar a porteira e pegar uma trilha bem fechada, onde atravessamos até um rio (com o nível de água baixo).

Chegamos em Raposos por volta de 23 horas, ficamos esperando mais ou menos uma hora os demais chegarem para partimos todos juntos para o próximo trecho, durante este intervalo, deitei na calçada da igreja e acabei cochilando por 30 minutos, acordei elétrico já querendo sair correndo e continuar o percurso.



O 4º trecho RAPOSOS - HONÓRIO BICALHO - 13,5 km (distância em subida: 5 km)

O trecho é curto, com 13,5 km. É todo feito em trilha, com exceção dos primeiros 1,2 km. Devido às subidas íngremes e as descidas técnicas a partir do Km 4,7, o percurso tem um grau de dificuldade médio.

Devido a presença da trilha, quase todo o trecho é impraticável para quem estiver de carro, mesmo para os 4X4. Ela só é transitável para quem estiver caminhando ou de bicicleta.

Assim, para quem estiver de carro, a orientação é seguir de Raposos, por mais 12 Km, até Honório Bicalho pelo asfalto.



Saímos perto de meia noite, eu, a Luciana, o Renato e o Oraldo, os demais foram de carro descansando ou dirigindo, como os carros não poderiam também nos acompanhar nesta parte, fomos novamente de camelback. Este trecho é o mais técnico com subidas íngremes e descidas onde só cabiam um pé de cada vez, atravessamos dois rios, um deles com água quase até o joelho, na saída de um destes rios senti uma dor no dedão, a pele do dedão direito havia descascado quase inteira e com a meia molhada e a pele entanto em carne viva, tive que parar e ver como estava meu pé, o Renato me emprestou alguns band-aids e fui embora, o visual era belíssimo, mesmo a noite onde estávamos em um breu danado e as lanternas conseguiam nos guiar. Eu e o Oraldo conseguimos fazer um descida rápida na parte técnica, onde devo confessar que foi bem divertido (o melhor de todo o trajeto).



O 5º trecho HONÓRIO BICALHO - RIO ACIMA - 9,63 km (distância em subida: 4 km)

É o trecho mais curto do Caminho do Sabarabuçu, com 9,63 Km. É percorrido todo em estrada de terra em bom estado de conservação, plana e boa parte sombreada, o que facilita o trânsito pelo trecho.

Ao chegarmos a Honório Bicalho, o Carlos (que fez o percurso de bicicleta e correndo, mais de 100 km no total e ainda ficou preocupado com a organização e os atletas) estava nos esperando com marmitas de macarrão e potes de açai, como o macarrão não era integral fiquei só no açaí, dois potões que encheram bastante, troquei as meias, fiz novo curativo nos dedos e troquei a roupa molhada, mas a chuva começou e tudo molhou de novo.



O Renato estava muito cansado e foi descansar, a Raissa voltou ao percurso junto com o Homero que estava começando naquele trecho e ajudaria muito a dar um pique novo, o trecho seria curto, mas de madrugada e lama onde até os carros tiveram dificuldade de passar dificultariam o trajeto, chegamos em rio Acima já clareando e com a chuva começando a parar.


O 6º trecho seria RIO ACIMA - GLAURA, mas devido a forte chuva de madrugada a organização resolveu mudar o percurso, pois os carros que não eram 4x4 não conseguiriam chegar até o fim, o percurso escolhido foi até ITABIRITO, onde daria por volta de 28 km.

A Luciana resolveu descansar um pouco no carro para repor as energias, afinal já tinha completado 110 km, mas devido a mudança do trecho final acabou ficando no apoio e me ajudando muito na minha hidratação e alimentação final.



Fomos eu e o Oraldo que estávamos desde o inicio junto com o Homero, a Raissa e o Carlos para o trecho final, onde durante o percurso todos que estavam no apoio fizeram um parte correndo ou andando, afinal era a parte final e todos queriam participar, faltando menos de 10 km no alto da montanha estava eu e o Oraldo (campeão da última BR e dono do melhor tempo da prova) correndo sem relógio apenas com o instinto, depois de subirmos uma ladeira ela me olha e fala "vamos fazer um trote leve", ok vamos nessa, e de repente me vi correndo num pace abaixo de 5 min/km (já com 125 km nas costas) ladeira abaixo fomos nós rápidos, porém sem estar forçando muito, apenas com o vento no rosto sem preocupação de tempo e/ou posição. Experiência única, consegui aprender muito com ele, desde a humildade aos ensinamentos das provas. Correr os 50 km finais ao lado desta fera são sensacional.

Terminamos por volta de 10 horas da manhã, totalizando +/- 135 km com o tempo total de 26h30, considero um tempo bom levando em conta que paramos nas cidades e era uma prova sem preocupações de posições, a ideia principal era se divertir.



O final fechou com chave de ouro, depois da chegada de todos que ainda estavam no desafio foi feito uma surpresa a todos, foram dados um certificado de participação do Desafio de Sabarabuçu e um lembrança, uma miniatura do Marco.

Foram todos chamados de forma aleatório, corredores, ciclistas, motoristas e apoios, todos receberam o mesmo certificado e o mesmo símbolo do Marco (apelidado de Marquito), pois todos foram heróis e responsáveis pela desafio completo.


Os marcos da Estrada Real estão situados no eixo principal do destino. Isso significa que estão ao longo do traçado dos Caminhos. Estão presentes sempre que há pontos de bifurcação ou em locais que geram dúvida para o viajante sobre o caminho a ser seguido. O viajante tem que seguir pelo caminho em que o marco está. Por exemplo: num caso de uma bifurcação, se o marco estiver à esquerda da via é para seguir à esquerda.

Agradeço e muito o convite e carinho da equipe Curta Ultra comigo e a minha equipe especial com a Luciana e a Meire e o Luciano dirigindo, com eles tudo foi mais fácil com certeza.

Bem o ano acabou e que venham as próximas provas como o Solomans da vida, enquanto isso nas férias vamos pedalando, patinando, nadando e escalando.