domingo, 8 de junho de 2014

Por que ainda estou aqui??




Sábado 14/12/2013 já era para estar de férias (das provas), afinal o ano foi puxado com provas longas e de montanha, além dos treinos muito puxados, mas surgiu uma última prova e que a galera do Força Vegana resolveu ir em peso, então como não ir (!?).

Por volta das 18h, todos em frente ao Prime Dog onde alugamos um microônibus para levar todos para a Ultramaratona 48h Guarujá, iríamos eu, Diego Brandão, Roberto Sacchi, Ronaldo Palleze, Lucas Lopes, Franz Hermann, William Chede, Leandro Stipanich, Rodolfo Alves, Fernando Braz e Jeferson da Costa fazer a prova de 12 horas o Daniel Meyer, Jhonatan Carvalho e o Alexandre Nogueira já estavam competindo na prova de 48 horas.

A equipe de apoio também era enorme: Erika, Fabiana, Pedro, Julia, José Luiz, Débora, Venâncio, Ana Laura, Celso, Liana e a Ketilin, sempre dispostos, alegres e prontos para nos ajudar quando qualquer um da equipe precisasse de ajuda.

Parecia mesmo uma festa com o pessoal da bagunça reunida, só que além da ultra teríamos que voltar correndo para São Paulo, pois o Bazar Vegano seria no domingo e a equipe tinha horário marcado para participar de um bate-papo.

Chegamos por volta das 20h30 no local da prova, onde descobrimos que seria “numa pista” de 400 metros (no asfalto) em frente à praia, ficar dando voltas e voltas de 400 metros durante 12 horas era algo que eu não estava psicologicamente preparado, mas já que estávamos lá...







Às 22 horas foi dada a largada para as 12 horas e nos misturamos à galera que estava correndo as 24 e 48 horas, todos juntos, mas em seus próprios ritmos, resolvi correr num pace mais rápido que fiz nas 24horas onde completei com 160 km, a intenção se tudo desse certo era percorrer 100 km.

A galera da bagunça levou vários adereços de carnaval e foi muito divertido toda ver toda a equipe usando as fantasias durante a corrida, todos olhavam e alguns até participaram da brincadeira, por um momento começou a chover e fiz uma volta com guarda chuva, as pessoas me olhavam perplexas riam, estávamos ali para nos divertir e isso era o que importava.




Nas três primeiras horas tudo estava indo bem, mas então começaram a surgir algumas dores que não achei que fossem se mostrar tão cedo, doía tudo da cintura pra baixo, algumas dores nunca tinha sentido na minha vida, este era o preço do excesso do ano pesado, mas não iria descansar a idéia era não parar para descansar e ficar o tempo inteiro na pista nem que fosse para se arrastar, troquei o tênis e comecei a intercalar as corridas com as caminhadas mesmo com as dores permanecendo.

Com quatro horas de prova (um terço realizado), não queria mais brincar daquilo, queria ir embora, estava cansado, com muitas dores e ficar dando voltas intermináveis a cada 200 metros onde tínhamos que virar (curva fechada que tinha um cone com marcação) sempre a direita estava moendo o meu joelho direito, ou fazia a curva bem aberta ou fazia fechada, mas caminhando para não forçar mais o joelho.

Nunca desisti de uma prova, mas nessa por alguns momentos pensei nesta possibilidade, o fato de toda a galera estar lá me dava forças para continuar, ver todo mundo se esforçando ao máximo era realmente inspirador, ver o Betão voltando de uma contusão e correndo com alegria era mesmo motivo para estar feliz e não ficar fazendo mimimi.




Durante a madrugada vi o Lucas e o Jeferson usando o massagista, até pensei em usar, mas reparei que eles estavam demorando muito, mais de uma hora, na verdade eles não estavam fazendo massagem como ocorreu nas 24 horas, mas colocavam eletrodos, preferi não parar, pois iria perder muito tempo e a idéia era não parar, com cinco horas de prova parei em frente às barracas onde o nosso apoio estava e comi algo correndo, devo confessar que deu vontade de parar e ficar ali conversando com eles, não estava curtindo tanto esta prova, parecia algo como obrigação e isto não estava legal.

Continuei no meu ritmo, corria um pouco e caminhava outro sempre pensando em terminar, não importava o resultado, porém olhava todas às vezes para o telão de marcação das voltas e em dois momentos não vi o meu número sendo registrado quando passava pela linha de largada/chegada, reclamei sem sucesso, pois ficava a minha palavra com as dos mesários, resolvi não olhar mais para o telão e consegui com raiva fazer umas voltas bem rápidas, iria terminar aquela prova de qualquer jeito.



Estava amanhecendo e com isso à gurizada que acabava de acordar e sendo puxada pelo Venâncio resolveram voltar com as fantasias e gritos de apoio, isto deu um animo enorme, aquela energia transmitida na beira da pista é realmente difícil de descrever com palavras, agora faltava mesmo de um terço de prova.

Foi nesta prova que conheci o seu Valentim, atleta de 68 anos, sendo 50 de vegetarianismo e 8 de introdução ao crudivorismo, puro exemplo de que sim é possível. Encontrei com o Franz em uma volta e resolvi andar com ele e conversarmos durante um tempo enquanto completávamos as voltas, depois ele resolveu parar, pois já tinha realizado a sua meta pessoal, mas logo depois nos altos falantes escutei a música The Number of the Beast do Iron Maiden, passei pela barraca do Franz e fiz sinal para ele escutar e mesmo ele sem tênis pegou o chinelo e foi dar mais algumas voltas ao som da Donzela.


Acho que faltavam umas duas horas para o encerramento quando encontrei o Diego, o moleque estava correndo com febre e estava destruindo, estava em primeiro nas parciais e preocupado com o segundo colocado que estava aparentemente inteiro, me disse que estava muito cansado, então disse vamos juntos, ele me mostrou quem era seu perseguidor e ficamos marcando ele, se ele corresse nos correríamos, se ele andasse nos andaríamos, se ele parasse andaríamos também, a vantagem que o Diego colocou era grande e não tinha como o outro atleta tirar a diferença se continuássemos na pista mesmo andando.

Devo aqui confessar que isso me deu um animo enorme para continuar, não sentia mais as dores (meu corpo devia estar anestesiado), a Julia me pediu para dar uma volta comigo e fizemo-la num trote, uma pessoa da organização deu uma bronca nela dizendo que ela não poderia fazer pace e ameaçou me desclassificar caso ela desse outra volta comigo, isso porque eu diminui o ritmo para ela poder me acompanhar e não vi o mesmo tratamento quando outros atletas também deram voltas com filhos e amigos, enfim deixa pra lá... Nos momentos finais vendo a galera na pista e chegando à hora de cruzar a linha de chegada foi emocionante e foi muito gratificante não só a minha chegada, mas como a de todos.



Não consegui realizar a minha meta e fiz 90 km, fiquei em oitavo no geral e segundo lugar na minha categoria perdendo e com orgulho para o Ronaldo, embora a organização tenha me colocado numa categoria inferior de idade (também sem segundo), mas com isso devo ter pego o pódio de alguém já que estava na categoria errada. Apesar dos problemas o resultado final foi bom, agora era pegar as coisas e ir embora, querer dizer ir para o Bazar Vegano, pois tínhamos uma sala reservada para contarmos nossas histórias e divulgar mais o Veganismo junto ao esporte e provando sim que é possível competir e bem.