Sábado
14/12/2013 já era para estar de férias (das provas), afinal o ano foi puxado
com provas longas e de montanha, além dos treinos muito puxados, mas surgiu uma
última prova e que a galera do Força Vegana resolveu ir em peso, então como não
ir (!?).
Por
volta das 18h, todos em frente ao Prime Dog onde alugamos um microônibus para
levar todos para a Ultramaratona 48h Guarujá, iríamos eu, Diego Brandão,
Roberto Sacchi, Ronaldo Palleze, Lucas Lopes, Franz Hermann, William Chede,
Leandro Stipanich, Rodolfo Alves, Fernando Braz e Jeferson da Costa fazer a
prova de 12 horas o Daniel Meyer, Jhonatan Carvalho e o Alexandre Nogueira já
estavam competindo na prova de 48 horas.
A
equipe de apoio também era enorme: Erika, Fabiana, Pedro, Julia, José Luiz,
Débora, Venâncio, Ana Laura, Celso, Liana e a Ketilin, sempre dispostos,
alegres e prontos para nos ajudar quando qualquer um da equipe precisasse de
ajuda.
Parecia
mesmo uma festa com o pessoal da bagunça reunida, só que além da ultra teríamos
que voltar correndo para São Paulo, pois o Bazar Vegano seria no domingo e a
equipe tinha horário marcado para participar de um bate-papo.
Chegamos
por volta das 20h30 no local da prova, onde descobrimos que seria “numa pista”
de 400 metros (no asfalto) em frente à praia, ficar dando voltas e voltas de
400 metros durante 12 horas era algo que eu não estava psicologicamente
preparado, mas já que estávamos lá...
Às
22 horas foi dada a largada para as 12 horas e nos misturamos à galera que
estava correndo as 24 e 48 horas, todos juntos, mas em seus próprios ritmos,
resolvi correr num pace mais rápido que fiz nas 24horas onde completei com 160
km, a intenção se tudo desse certo era percorrer 100 km.
A
galera da bagunça levou vários adereços de carnaval e foi muito divertido toda
ver toda a equipe usando as fantasias durante a corrida, todos olhavam e alguns
até participaram da brincadeira, por um momento começou a chover e fiz uma
volta com guarda chuva, as pessoas me olhavam perplexas riam, estávamos ali
para nos divertir e isso era o que importava.
Nas
três primeiras horas tudo estava indo bem, mas então começaram a surgir algumas
dores que não achei que fossem se mostrar tão cedo, doía tudo da cintura pra
baixo, algumas dores nunca tinha sentido na minha vida, este era o preço do
excesso do ano pesado, mas não iria descansar a idéia era não parar para
descansar e ficar o tempo inteiro na pista nem que fosse para se arrastar,
troquei o tênis e comecei a intercalar as corridas com as caminhadas mesmo com
as dores permanecendo.
Com
quatro horas de prova (um terço realizado), não queria mais brincar daquilo,
queria ir embora, estava cansado, com muitas dores e ficar dando voltas
intermináveis a cada 200 metros onde tínhamos que virar (curva fechada que tinha
um cone com marcação) sempre a direita estava moendo o meu joelho direito, ou
fazia a curva bem aberta ou fazia fechada, mas caminhando para não forçar mais
o joelho.
Nunca
desisti de uma prova, mas nessa por alguns momentos pensei nesta possibilidade,
o fato de toda a galera estar lá me dava forças para continuar, ver todo mundo
se esforçando ao máximo era realmente inspirador, ver o Betão voltando de uma
contusão e correndo com alegria era mesmo motivo para estar feliz e não ficar
fazendo mimimi.
Durante
a madrugada vi o Lucas e o Jeferson usando o massagista, até pensei em usar,
mas reparei que eles estavam demorando muito, mais de uma hora, na verdade eles
não estavam fazendo massagem como ocorreu nas 24 horas, mas colocavam
eletrodos, preferi não parar, pois iria perder muito tempo e a idéia era não
parar, com cinco horas de prova parei em frente às barracas onde o nosso apoio
estava e comi algo correndo, devo confessar que deu vontade de parar e ficar
ali conversando com eles, não estava curtindo tanto esta prova, parecia algo
como obrigação e isto não estava legal.
Continuei
no meu ritmo, corria um pouco e caminhava outro sempre pensando em terminar,
não importava o resultado, porém olhava todas às vezes para o telão de marcação
das voltas e em dois momentos não vi o meu número sendo registrado quando
passava pela linha de largada/chegada, reclamei sem sucesso, pois ficava a
minha palavra com as dos mesários, resolvi não olhar mais para o telão e consegui
com raiva fazer umas voltas bem rápidas, iria terminar aquela prova de qualquer
jeito.
Estava
amanhecendo e com isso à gurizada que acabava de acordar e sendo puxada pelo
Venâncio resolveram voltar com as fantasias e gritos de apoio, isto deu um animo
enorme, aquela energia transmitida na beira da pista é realmente difícil de
descrever com palavras, agora faltava mesmo de um terço de prova.
Foi
nesta prova que conheci o seu Valentim, atleta de 68 anos, sendo 50 de
vegetarianismo e 8 de introdução ao crudivorismo, puro exemplo de que sim é
possível. Encontrei com o Franz em uma volta e resolvi andar com ele e
conversarmos durante um tempo enquanto completávamos as voltas, depois ele
resolveu parar, pois já tinha realizado a sua meta pessoal, mas logo depois nos
altos falantes escutei a música The Number of the Beast do Iron Maiden, passei
pela barraca do Franz e fiz sinal para ele escutar e mesmo ele sem tênis pegou
o chinelo e foi dar mais algumas voltas ao som da Donzela.
Acho
que faltavam umas duas horas para o encerramento quando encontrei o Diego, o
moleque estava correndo com febre e estava destruindo, estava em primeiro nas
parciais e preocupado com o segundo colocado que estava aparentemente inteiro,
me disse que estava muito cansado, então disse vamos juntos, ele me mostrou
quem era seu perseguidor e ficamos marcando ele, se ele corresse nos
correríamos, se ele andasse nos andaríamos, se ele parasse andaríamos também, a
vantagem que o Diego colocou era grande e não tinha como o outro atleta tirar a
diferença se continuássemos na pista mesmo andando.
Devo
aqui confessar que isso me deu um animo enorme para continuar, não sentia mais
as dores (meu corpo devia estar anestesiado), a Julia me pediu para dar uma
volta comigo e fizemo-la num trote, uma pessoa da organização deu uma bronca
nela dizendo que ela não poderia fazer pace e ameaçou me desclassificar caso
ela desse outra volta comigo, isso porque eu diminui o ritmo para ela poder me
acompanhar e não vi o mesmo tratamento quando outros atletas também deram
voltas com filhos e amigos, enfim deixa pra lá... Nos momentos finais vendo a
galera na pista e chegando à hora de cruzar a linha de chegada foi emocionante
e foi muito gratificante não só a minha chegada, mas como a de todos.
Não
consegui realizar a minha meta e fiz 90 km, fiquei em oitavo no geral e segundo
lugar na minha categoria perdendo e com orgulho para o Ronaldo, embora a
organização tenha me colocado numa categoria inferior de idade (também sem
segundo), mas com isso devo ter pego o pódio de alguém já que estava na
categoria errada. Apesar dos problemas o resultado final foi bom, agora era
pegar as coisas e ir embora, querer dizer ir para o Bazar Vegano, pois tínhamos
uma sala reservada para contarmos nossas histórias e divulgar mais o Veganismo
junto ao esporte e provando sim que é possível competir e bem.